Uma região isolada do restante do planeta, de difícil acesso e com um clima extremamente frio. “A Antártica representa quase como um planeta dentro de um planeta. Um planeta à parte. O fato de ser um continente praticamente inabitado torna ainda mais fascinante”, comenta o embaixador Alessandro Warley Candeas, diretor do departamento de defesa do Itamaraty.
E foi à convite da Marinha do Brasil que o repórter Maurício de Almeida viajou duas vezes para a Antártica, uma região ainda cercada de mistérios. Na primeira, a equipe do Caminhos da Reportagem foi de avião, num Hércules C-130 – uma aeronave de guerra que consegue pousar em pistas pequenas e improvisadas. Por estas características, o Hércules é o único avião da Força Aérea Brasileira que aterrisa no continente.
Na segunda vez, a produção viajou no navio polar “Almirante Maximiano” que funciona como uma espécie de laboratório flutuante. Cerca de 40% das pesquisas brasileiras no continente são produzidas na embarcação, onde cientistas fazem levantamento oceanográfico, coletam amostras de espécies marinhas e estudam o clima da região. Durante o trajeto, o repórter Maurício de Almeida teve a oportunidade de conversar com Moacyr Araújo, vice-reitor da Universidade Federal de Pernambuco. O pesquisador e sua equipe estudam o impacto das correntes marítimas da Antártica no clima brasileiro: “Um dos principais objetivos do nosso projeto é justamente entender como se passa a troca de gases entre o oceano e atmosfera”.
As pesquisas realizadas no continente só são possíveis graças ao Tratado Antártico – um acordo firmado em 1959, por 12 países, que definiram as regras de ocupação da região. Desde então, o local é considerado um território neutro. A especialista em Relações Internacionais da Universidade Federal de Brasília, Ana Flávia Barros-Platiau, explica que “está estabelecido no tratado a construção de bases permanentes ou sazonais na Antártica, à condição que os países interessados comprovem pesquisa científica substancial”.
O Brasil possui bases na região desde 1982, quando deu início ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar). A paleontóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Juliana Sayão, é uma das pesquisadoras que investiga o continente. Ela ressalta que no passado a região era colada na América do Sul e o clima era quente: “tinha uma diversidade absurda tanto de animais invertebrados quanto de vertebrados.” A equipe dela foi a responsável por encontrar os primeiros registros de pterossauros em solo antártico.
Em 2012, a base brasileira sofreu um incêndio e destruiu 70% das instalações. No último mês de janeiro, sete anos depois, a Estação Comandante Ferraz foi reinaugurada. Entre os laboratórios estão o da Fiocruz. Lá, serão desenvolvidos, entre outros estudos, pesquisas com microrganismos antárticos. Win Degrave, coordenador do projeto, explica que o objetivo é descobrir novas substâncias para a produção de remédios: “como eles tem que viver num ambiente muito extremo eles geralmente tem muitas moléculas químicas diferentes dentro das células que podem ser desenvolvidos como novos antibióticos, no tratamento para câncer, por exemplo”.
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